segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O Abutre_Franz Kafka

Era um abutre que me dava grandes bicadas no pé. Tinha já dilacerado sapatos e meias e penetrava-me a carne. De vez em quando, inquieto, esvoaçava à minha volta e depois regressava à faina. Passava por ali um senhor que observou a cena por momentos e me perguntou depois como eu podia suportar o abutre.
— É que estou sem defesa — respondi. — Ele veio e atacou-me. Claro que tentei lutar, estrangulá-lo mesmo, mas é muito forte, um bicho destes! Ia até saltar-me à cara, por isso resolvi sacrificar os pés. Como vê, estão quase despedaçados.
— Mas deixar-se torturar dessa maneira! — disse o senhor.
— Basta um tiro e pronto!— Acha que sim? — disse eu.
— Quer o senhor disparar o tiro?Certamente — disse o senhor.
— É só ir a casa buscar a espingarda. Consegue agüentar meia hora?
— Não sei lhe dizer. — respondi.Mas sentindo uma dor pavorosa acrescentei:
— De qualquer modo, vá, peço-lhe.
— Bem — disse o senhor. — Vou mais depressa possível.O abutre escutara tranqüilamente a conversa, fitando-nos alternadamente. Vi então que ele percebera tudo. Elevou-se com um bater de asas e depois, empinando-se para tomar impulso, como um lançador de dardo, enfiou-me o bico pela boca até ao mais profundo do meu ser. Ao senti, com que alívio, que o abutre se engolfava impiedosamente nos abismos infinitos do meu sangue.

Li esse conto em um dia em que estava meio pra baixo.Desanimada com o estágio, com tudo que está me acontecendo. Mas de uma forma dramática e surpreendente, esse conto me alertou para algo que estou refletindo até hj. Em momento algum eu perdi a esperança daquele senhor matar o abutre o mais rápido possível.Mas quando chegou no final, achei que, felizmente, o abutre matou o cara primeiro.A dor deveria ser insuportável!Aquele senhor iria demorar muito até ir buscar a arma. A morte foi a melhor solução imediata!Aiaiai...estou pegando o espírito kafkaninano?Ainda estou me acostumandocom essa literautra e estou me surpreendendo a cada dia!!!

2 comentários:

  1. É meio estranho... Sei lá... Cuidado com o Kafka... Aprecie com moderação...

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  2. Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar. Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.

    Que me aconteceu? - pensou. Não era um sonho. O quarto, um vulgar quarto humano, apenas bastante acanhado, ali estava, como de costume, entre as quatro paredes que lhe eram familiares. Por cima da mesa, onde estava deitado, desembrulhada e em completa desordem, uma série de amostras de roupas: Samsa era caixeiro-viajante, estava pendurada a fotografia que recentemente recortara de uma revista ilustrada e colocara numa bonita moldura dourada.

    Mostrava uma senhora, de chapéu e estola de peles, rigidamente sentada, a estender ao espectador um enorme regalo de peles, onde o antebraço sumia!

    Gregor desviou então a vista para a janela e deu com o céu nublado - ouviam-se os pingos de chuva a baterem na calha da janela e isso o fez sentir-se bastante melancólico. Não seria melhor dormir um pouco e esquecer todo este delírio? - cogitou. Mas era impossível, estava habituado a dormir para o lado direito e, na presente situação, não podia virar-se. Por mais que se esforçasse por inclinar o corpo para a direita, tornava sempre a rebolar, ficando de costas. Tentou, pelo menos, cem vezes, fechando os olhos, para evitar ver as pernas a debaterem-se, e só desistiu quando começou a sentir no flanco uma ligeira dor entorpecida que nunca antes experimentara.

    Oh, meu Deus, pensou, que trabalho tão cansativo escolhi! Viajar, dia sim, dia não. É um trabalho muito mais irritante do que o trabalho do escritório propriamente dito, e ainda por cima há ainda o desconforto de andar sempre a viajar, preocupado com as ligações dos trens, com a cama e com as refeições irregulares, com conhecimentos casuais, que são sempre novos e nunca se tornam amigos íntimos. Diabos levem tudo isto! Sentiu uma leve comichão na barriga; arrastou-se lentamente sobre as costas, - mais para cima na cama, de modo a conseguir mexer mais facilmente a cabeça, identificou o local da comichão, que estava rodeado de uma série de pequenas manchas brancas cuja natureza não compreendeu no momento, e fez menção de tocar lá com uma perna, mas imediatamente a retirou, pois, ao seu contato, sentiu-se percorrido por um arrepio gelado....

    Franz Kafka metamorfose.....


    e ai vanessa cmo vai eu gosto dele, nao pelo nome (todos falam do nome quando falo que gosto) mas com vai menina

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